segunda-feira, 30 de maio de 2016

Cultura do estupro e como os homens contribuem para perpetuá-la

Mal acabamos de saber de um caso de estupro envolvendo uma menina e 30 estupradores, a vítima dá uma entrevista, dizendo não serem 30, mas 33 homens que a estupraram. Mas se isso acontece, que tipo de culpa, nós - os outros homens alheios a essa realidade - carregamos?


Nós carregamos toda culpa quando nos calamos diante dos fatos. Nós carregamos toda culpa quando não nos manifestamos ao saber dos fatos, mas somos os primeiros a tomar as dores quando ouvimos falar que "todo homem é um estuprador em potencial".

Nós carregamos culpa enquanto nos preocupamos em observar a conduta da vítima, seu estilo de vida, modo de se vestir, etc e tal, e esquecemos de declarar os culpados, por achar que tudo tem que ser justificado.

"Ah, mas se estivesse em casa lavando louça, não seria estuprada". Ledo engano. Não são raros, nem são poucos os casos de estupro marital. Não são poucos os casos de abuso sexual de mulheres, crianças e adolescentes no ambiente familiar, seja pelo pai, tio, primo, cunhado, sempre há um abusador. Infelizmente.

Mas aqui, no caso em questão, não foi um abusador. Foram 33. Sim. 33 estupradores. 33 homens que viram, praticaram e incentivaram os abusos. Dos 33, não houve 1 que dissesse para não fazer. Não houve NENHUM contrário ao que fora feito. E nenhum deles é doente. Nenhum deles foi forçado. Nenhum deles é um coitado. Dos 33 não salva 1.

Até agora o que se vê é gente condenando mais a menina que foi estuprada do que seus estupradores. Os estupradores são "doentes", devem ter "algum problema mental". Sim. 33 doentes, todos com a mesma patologia, exatamente no mesmo lugar, praticando os mesmos atos. Claro. Mas a vítima? Ahh, a vítima... Essa é a culpada por levar a vida que levava, por andar com as companhias que andava, por usar as roupas que usava ou por ter a personalidade que tem. Sim. A culpa é dela se os homens não sabem respeitá-la.

Este é o velho discurso de "você tem que aprender a se comportar, pra não passar por essas coisas". Porque é sempre mais fácil e conivente culpar a conduta da vítima do que criminalizar a do agressor.

Vivemos em uma sociedade tão acostumada a culpabilizar a vítima pelos abusos sofridos, que chega a ser preocupante além de estarrecedor ver o quanto uma imensa maioria dos homens está alheia a essa realidade, achando que isso não lhes diz respeito, pois não é com eles. Mas aí é que está o engano. Isso nos diz respeito mais do que possamos imaginar.

Façamos um teste. Responda às perguntas abaixo:

1. Como você soube - se é que soube - do caso da menina estuprada por 33 caras?

2. Quando soube, qual foi sua primeira preocupação? Saber como estava a vítima, se indignar e condenar a conduta dos estupradores, ou você primeiro foi procurar pelo vídeo e fotos para "formar sua opinião" se de fato foi ou não estupro?

3. Você acha que a culpa é da menina?

4. Você acha que ela tem culpa por ter bebido demais?

5. Você acha que não foi abuso porque ela estava dormindo? (Sim, muita gente ainda acha isso normal).

6. E quanto à sua conduta com as mulheres? Como é?

7. Quando você recebe um fora, encara na boa ou prefere xingá-la e desrespeitá-la por se achar bom demais para ser dispensado por alguém?

8. Quando você tá a fim de uma mulher como você a aborda? Segura pelo braço? Tenta beijar sem o consentimento dela, achando que, por ela estar na festa, está disponível e está querendo?

9. Quando você organiza uma festa, gosta de dar mais bebidas às mulheres para deixá-las mais vulneráveis para assim, você obter vantagem da situação e depois alegar que tudo foi consentido?

10. Você acha O.K. fazer piadinhas machistas?

11. Você acha que "em briga de marido e mulher não se mete a colher"?

12. Se você vê um amigo brigando com a namorada ou insultando-a na frente dos outros, acha que esse é um problema só deles e que você nada tem a ver com isso?

Se a maioria de suas respostas para os questionamentos acima foi positiva, se você acha que um beijinho sem consentimento não é nada de mais, se você acha que a vítima tem uma parcela de culpa, mesmo que mínima, quando sofre abuso, seja por suas roupas, seu estilo de vida, profissão, ou por simplesmente gostar de beber; se você acha que transar com uma mulher que esteja dormindo não configura abuso pois ela "não negou"; se você xinga quando uma mulher te dispensa, se você tenta beijá-la a força' se você acha "ok" embebedar mulheres para obter algo, você não tem moral nenhuma para reclamar quando disserem que "todo homem é um estuprador em potencial".

Se você ri de piadinhas machistas e as propaga e perpetua. Se você acha que não deve se meter em briga de casal, por achar que esse não é um problema seu, saiba de uma coisa:

Você, assim como eu e todos os outros homens, é parte desses 33, enquanto continua contribuindo para a perpetuação e legitimação destes abusos, mesmo que de forma indireta, enquanto nossos atos contribuem para que as mulheres continuem sendo submetidas a tais violências, subjugadas por seus algozes.

E se você, homem, ainda se pergunta onde está a parcela de culpa dos outros homens, deixarei aqui postado uma breve reflexão de uma amiga minha:

Sabe aquele seu amigo de esquerda que cerca menina bêbada na balada?
Sabe aquele seu amigo super desconstruído que enfia bebida na menina que ele quer beijar?
Sabe aquele seu amigo engajadão que não vê problema em "convencer" uma mulher a fazer sexo anal?
Pois é!
Seu amigo é E S T U P R A D O R.

Fonte: Brasil Post

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